Mike Tyson é, indubitavelmente, uma das maiores lendas do Boxe, mas ao mesmo tempo, uma das figuras mais controversas, seja por aquilo que fez no ringue, seja por aquilo que fez fora dele.  Nos últimos anos, aliás, simplesmente por aquilo que aconteceu fora do ringue e, finalmente, após 15 anos, mais uma vez, dá que falar por causa de um dos combates mais comentados da história recente do pugilismo.

É um facto que o encontro contra Roy Jones Jr. foi pouco mais do que um espetáculo altamente rentável que pouco tem a ver com Boxe tradicional. Muito embora nos podemos interrogar se foi realmente tão fraco. Mas então, qual é o significado que se pode dar a um combate durante o qual nem sequer foi possível dar um KO?

Já mencionámos as dificuldades que Tyson sempre enfrentou na sua muito complicada vida: violência, dinheiro e cocaína, prisão entre outros. Ele foi e, claramente, ainda é o seu adversário mais temível. Por vezes ganhou, outras perdeu. E, sempre nos extremos, porque Tyson ou ganhou nos máximos níveis, ou perdeu muito mal. Mas, para ele, sempre foi difícil. Em relação ao passado dia 29 de Novembro, no mundo do Boxe houve uma atitude maioritariamente negativa em relação ao combate Tyson / Roy Jones. A justificação é que aquilo não foi verdadeiramente Boxe.

De facto, é verdade, não foi. E, em parte – mas apenas em parte – esta justificação tem fundamento. É preciso também ter em conta de que os golpes desferidos por pesos pesados com mais de 50 anos podem infligir traumas irreparáveis e o Boxe é uma modalidade também baseada na proteção dos atletas. Todavia, sem entrar na questão do dinheiro, que obviamente está aí presente e é subjacente a todo este acontecimento, há um aspeto que penso deva ser sublinhado: o da capacidade de reagir a situações adversas.

A análise em relação ao combate pode, assim, ter duas vertentes e depende do olhar que se tem sobre o Boxe. A primeira é a ideia do combate, a segunda a ideia da competição. Do ponto de vista da combate, claro, o encontro entre Tyson e Roy Jones não tinha grande coisa a dizer. Mas, se olharmos do ponto de vista da ideia de competição, então a interpretação deve ser completamente diferente. A história daquele combate é a história de um homem que estava há anos caído no chão do ringue da sua vida e que, mesmo no limiar de terminarem os dez segundos, se conseguiu levantar.

Aos 54 anos voltou a um ginásio para enfrentar, mais uma vez, o seu pior adversário e, portanto, a pior das competições: aquela contra si proprio. Um treino complicado e duro, porque encontrar regularidade no treino é a parte mais complicada mesmo se houver montanhas de dinheiro envolvido. Implica deixar de lado todos os maus hábitos. Assim, pouco a pouco, Tyson conseguiu encontrar a forma física, mas, sobretudo, conseguiu encontrar uma motivação – dinheiro, exposição mediática, ou, simplesmente, orgulho em si próprioe uma estratégia para conseguir o seu objetivo.

O encontro resultou oficialmente num empate, mas Tyson mostrou a todos os derrotados que existe uma forma de sair do buraco e que é sempre possível endireitar caminhos tortos. Isso não somente aos 15, ou 20 anos, mas também aos 54. Este, penso, é o significado mais profundo. A mensagem lançada pelo campeão está aí para quem quiser aceitá-la.

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